Conheça a história do Brasil nessa premiada trilogia de episódios.
Essa trilogia obra-prima do Escriba Cafe, foi originalmente publicada através dos episódios 68, 69 e 70, sendo aqui disponibilizados, cada um, em seu respectivo player.
Esse episódio faz parte dos fantásticos podcasts mais antigos do Escriba Cafe que, por questões de direitos autorais, não estão disponíveis para download nem pelo feed, Spotify, etc, (nem mesmo pelo player fixo no site) sendo possível ouví-los somente pelo player no respectivo post.
FICHA TÉCNICA
Roteiro: Christian Gurtner | e carta de Pero Vaz de Caminha (lida por Luís Gaspar) Produção e narração: Christian Gurtner Participação especial: Luís Gaspar
BIBLIOGRAFIA
NARLOCH, L. Guia politicamente incorreto da história do Brasil.1.ed. São Paulo: Leya, 2009
OLIVIERI, A.C. Cinco milhões de índios estavam no Brasil antes do descobrimento. Disponível em: < http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/ult1702u41.jhtm >. Acesso em: 16/12/2009
FAUSTO, B. História do Brasil. 13.ed. São Paulo: EDUSP, 2009
GOMES, L. 1808. 1.ed. São Paulo: Planeta, 2007
MONTEIRO, T. História do Império: A elaboração da independência. 1.ed. Rio de Janeiro: F.Briguiet e Cia, 1927
VÁRIOS. O Álbum dos Presidentes. 1.ed. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1989
TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO
(As transcrições dos episódios são publicadas diretamente do roteiro, sem revisão, podendo haver ainda erros ortográficos/gramaticais e, assim, pedimos que marquem os erros e deixem uma nota para que possamos corrigí-los)
Ler a transcrição completa do episódio
Tratado de Tordesilhas
Lisboa, anno domini de 1492
Chega em Portugal a notícia de que Cristóvão Colombo, navegador enviado pela Espanha, havia descoberto novas terras, e que a promulgação de três Bulas Papais, chamadas Bulas Alexandrinas, concediam ao reino da Espanha o domínio dessas novas terras no novo mundo.
Portugal rapidamente contesta, afirmando que a descoberta de Colombo se encontrava em terras portuguesas.
Sem a participação do Papa, em 1494, diplomatas portugueses e espanhóis se encontram então na ilha de Tordesilhas, para resolver o caso. As negociações terminam com um tratado assinado por ambos os reinos em que o mundo é divido entre duas partes: uma para terras descobertas e ainda a descobrir por Portugal, e outra parte para a Espanha, firmava-se assim o Tratado de Tordesilhas.
Portugal começa então a investir na sua maior empreitada: conseguir uma rota marítima para a Índia e assim agilizar e monopolizar o comércio de especiarias.
Portugal havia iniciado seu processo de expansão marítima havia vários anos. O objetivo era abrir novas rotas para comercializar seus produtos excedentes e importar o que faltava e o que era lucrativo e também conquistar novas terras para serem colonizadas.
Nessa época as especiarias valiam ouro. Eram artigos raros que vinham do oriente e que geravam muito dinheiro para o rei e para os comerciantes portugueses, e por isso achar uma rota marítima para índia significava muito para Portugal.
Vasco da Gama e a Índia
Anno domini de 1499
Retorna à Portugal Vasco da Gama. Ele trazia consigo as boas novas de que conseguira com sucesso estabelecer uma nova rota para a Índia.
Ele havia partido dois anos antes, seguindo a já explorada rota para o Cabo da Boa Esperança, descoberta por Bartolomeu Dias, e assim atingindo o Oceâno Índico e alcançado a Índia.
Os portugueses ficaram eufóricos. Precisavam agora concretizar e estabelecer o comércio com o oriente.
E foi assim que, com o objetivo de criar uma feitoria, ou seja, um entreposto comercial e estabelecer relações diplomáticas na Índia, o Rei Dom Manoel nomeou capitão-mor da mais bem aparelhada armada do Sec. XV, um fidalgo chamado Pedro Álvares Cabral.
Sua armada seria composta de 13 navios com mais de 1.200 homens e vários navegadores experientes como Bartolomeu Dias.
A partida
Rio Tejo, Lisboa, 9 de março, do anno domini de 1500
Após uma missa solene, onde esteve presente o Rei de Portugal e toda a corte, os navegadores, soldados, religiosos e marinheiros subiram a bordo das 10 naus e 3 caravelas comandados por Pedro Álvares Cabral. Junto com toda a tripulação, ia também um escrivão de nome Pero Vaz de Caminha.
As velas foram erguidas e sob grande pompa partiu a frota em direção à Índia.
A viagem
[Trechos da carta de Pero Vaz de Caminha]
Passando pelo Cabo da Boa Esperança, a frota se desviou de seu curso, seguindo acidentalmente a direção contrária ao Oceano Índico, adentrando o alto mar no Oceano Atlântico.
A viagem começou a ficar penosa para a tripulação, doenças, dúvidas e angústia atacavam a todos. Não encontravam terra para aportar e reabastecer e a água começava a ficar escassa.
[Trechos da carta de Pero Vaz de Caminha]
O encontro dos portugueses com os índios na costa, onde hoje é Porto Seguro, deixou claro que a história daquela terra nova começou muito antes daquela data.
Antes dos portugueses
21 de abril de 1500, tribo Tupi, um outro ângulo.
Os habitantes da tribo cuidavam de seus afazeres, quando alguns índios chegaram correndo e dizendo que avistaram gigantescas canoas no horizonte.
Os Tupis eram muito parecidos, tanto no idioma quanto na cultura, com os Guaranis, sendo assim sempre mencionados em conjunto, ou seja, Tupi-Guarani. Além deles, haviam outras tribos indígenas que habitavam o Brasil, como os goitacases, os aimorés e os tremembés. Todas essas e outras tribos eram chamadas de tapuias, nome que os tupi-guaranis davam para todas as outras culturas que não falassem sua língua.
Não se sabe ao certo como os índios chegaram ao novo mundo, mas tudo indica que foram asiáticos que migraram durante o período interglacial e a presença humana na américa do sul data de mais de 20.000 anos.
Os índios viviam basicamente da caça, da pesca e da agricultura, e não se deve pensar que eles preservavam e cuidavam da natureza, na verdade eles usavam a área até que houvesse a exaustão de alimentos e assim migravam para outra área, derrubavam árvores e praticavam a queimada para praticar a agricultura.
Mas devido ao pequeno número de habitantes e suas ferramentas rudimentares, o impacto deles no meio ambiente não era muito relevante.
Tudo o que era produzido era praticamente para consumo próprio, caçavam e plantavam pela subsistência, e não havia comércio.
O contato com outras tribos era feito somente para troca de mulheres e de artigos de luxo, como as penas de tucano e outros objetos raros.
Esses contatos também resultavam em aliança entre grupos indígenas que entravam em guerra contra outros grupos, e essas guerras contemplava os vencedores com prestígio, renovação de mulheres e prisioneiros. Os prisioneiros eram mortos em um ritual canibalístico.
Os tupi-guaranis viviam em aldeias de aproximadamente 700 pessoas. O local onde ela seria construída era determinada por um conselho de chefes, que também decidiam vários outros assuntos e até mesmo o Morubixaba, um chefe em destaque que cuidava principalmente dos assuntos de guerra, deveria antes de qualquer decisão, convencer o conselho. E as guerras normalmente eram feitas por questões materiais ou pessoais, como a conquista de terras melhores ou a vingança por parentes mortos pela outra tribo.
Os índios encaravam a morte como uma passagem. Acreditavam em espíritos da natureza e nos espíritos dos antepassados, realizando sempre rituais para os mesmos.
No caso dos tupi-guaranis, os deuses supremos eram Maíra e Monan, os criadores de tudo.
As tribos também possuíam um pajé, que era uma espécie de sacerdote e curandeiro e exercia muito influência na direção da aldeia.
Os pajés também profetizavam a vinda dos deuses e outras entidades, o que se transformou em um grande acontecimento quando alguns índios relataram, nesse dia, o avistamento de embarcações gigantes, nunca antes imaginadas.
Foram chegando cada vez mais índios na praia, e quando os estranhos homens chegaram de suas enormes embarcações, alguns índios receosos apontaram seus arcos e flechas para os visitantes que tinham a pele de uma cor estranha e pelos no rosto. Mas bastou o mínimo sinal daqueles estranhos para que os índios baixassem suas armas, afinal deveriam obedecer seus deuses. Mas o que eles não sabiam é que a chegada daqueles homens significaria um completa mudança de vida e de cultura.
A exploração
Lisboa, anno domini de 1500,
A notícia da descoberta do Brasil, através da carta de Pero Vaz de Caminha, não causou muito entusiasmo na corte portuguesa, uma vez que pensaram se tratar de uma ilha sem nenhum proveito de exploração. Mas houve muito entretenimento com as atrações exóticas que eram enviadas, como papagaios, índios e araras.
De acordo com a carta recebida pelo rei, os desbravadores haviam realizado a primeira missa na terra nova, num domingo de páscoa, e uma observação do capitão-mor afirmava que os índios eram muito dóceis e que facilmente seriam convertidos ao cristianismo.
Apesar de ser um reino muito ligado à igreja católica, a coroa não estava preocupado nem em colonizar, nem em disseminar a religião naquela terra recém descoberta, afinal não via ali nada que valesse a pena essa investida.
Com o passar do tempo os portugueses começaram a exploração do Pau Brasil, e pouco a pouco a terra de Vera Cruz, que depois foi chamada pelo rei de Terra de Santa Cruz, começava aos poucos ser chamada de Brasil, devido à grande quantidade da árvore que era extraída para construção de móveis e navios.
Como as árvores não cresciam juntas e estavam espalhadas no meio das florestas, era mais vantajoso para os portugueses fazer trocas com os índios, que já possuíam experiência na procura e derrubada, e esses aceitavam qualquer quinquilharia em troca pelo serviço, coisas sem valor para os portugueses, como tecidos, canivetes e espelhos.
Não tardou para que franceses e outros reinos começassem a rondar o Brasil, o que finalmente chamou a atenção do rei português para a necessidade de colonizar logo a terra ou perde-la para outros.
A colonização
Brasil, anno domini de 1530
Chega ao novo mundo a expedição de Martim Afonso de Souza. Ordenado pelo rei, sua missão era patrulhar a costa brasileira e conceder terras aos povoadores que trazia.
Portugal dividiu a terra nova em capitanias para pequenos nobres, comerciantes e burocratas que tinham ligação com a coroa, sendo Fernão de Noronha o primeiro donatário, que recebeu a terra que posteriormente receberia seu nome.
A maioria das capitanias não conseguiu prosperar e pouco a pouco a coroa as retomava.
Somando a crise do comércio com Índia ao fracasso das capitanias o rei vê a necessidade de investir mais na nova colônia. E com o objetivo de centralizar a administração, organizar a arrecadação de tributos e instituir a ordem, Dom João III, atual rei de Portugal, envia um fidalgo de nome Tomé de Souza para instituir o governo geral do Brasil.
Além do trabalho administrativo, o governador Tomé de Souza recebeu a difícil incumbência de construir a cidade de São Salvador, que seria a capital do governo geral.
Junto com Tomé de Souza vieram os primeiros jesuítas, dentre eles Manuel da Nóbrega, que vinham com o objetivo de catequizar os índios e disciplinar o pequeno clero que já estava no Brasil mas possuía uma péssima fama.
A colônia finalmente começa a tomar forma e seu funcionamento era basicamente o de fornecer à Portugal produtos da agricultura e da mineração.
Mas a produção era ainda baixa, os proprietários de terras e a coroa precisavam aumentar os rendimentos e para gerar mais lucro e reduzir gastos, precisavam de mais mão de obra, e principalmente precisavam de mão de obra barata.
A escravidão dos índios
Algumas tribos indígenas haviam se aliado aos portugueses, numa cooperação de mão dupla contra outras tribos resistentes à presença portuguesa na terra nova, e também no auxílio à exploração.
Com a necessidade de mão de obra barata os portugueses começaram a escravizar os índios que aprisionavam em batalhas. Passou também a negociar os prisioneiros de tribos que haviam guerreado com outra tribo.
Não eram todos os índios que eram escravizados, somente os das tribos inimigas, e para combatê-los, as próprias tribos aliadas dos portugueses ajudavam com todo prazer na empreitada.
Chegou-se ao ponto de que quando embarcações portuguesas chegavam, vários índios traziam parentes seus para trocar por mercadorias portuguesas.
Os jesuítas começaram a criar definições para os índios, pois geralmente colocavam em dúvida a questão de o índio ser humano. Para os jesuítas haviam os índios bons e os índios maus, sendo que os bons eram aqueles que haviam se convertido ao catolicismo e cooperado com os portugueses.
Os rituais canibalísticos foram proibidos, e os índios que eram pegos praticando o canibalismo eram presos e escravizados.
Mas os dias de escravidão dos índios não iriam durar muito. E o motivo não era bonito, era trágico.
As viagens de desbravamento dos navegadores europeus sempre resultaram em uma espécie de troca de doenças, e na maioria das vezes os principais prejudicados eram os próprios europeus, que morriam aos montes nas viagens e ainda levavam doenças para a Europa.
Com a chegada dos portugueses no Brasil, doenças se espalharam por todas as tribos, gripe, varíola e sarampo mataram muito mais de 60 mil índios em menos de um ano. Eles não possuíam defesas biológicas contra essas e outras doenças e eram liquidados por elas. Por outro lado, portugueses também acabavam sendo abatidos por novas doenças, antes exclusiva dos americanos.
Além das mortes em massa, os índios capturados não se adaptavam ao trabalho escravo e resistiam de todas as formas contra a imposição portuguesa, e assim os índios se mostraram indomáveis e improdutivos diante do trabalho forçado e gradativamente começaram a serem descartados como mão de obra escrava.
Mas a necessidade de mão de obra barata da coroa e dos colonos continuava, alguém teria que substituir os índios.
Importando escravos negros
Angola, ano domini de 1570
A colônia africana de Portugal já trabalhava há algum tempo com a captura e negociação de escravos para serem vendidos na Europa.
Esse lucrativo mercado já existia na África muito antes dos Europeus chegarem. Reinos invadiam e pilhavam tribos ou nações inimigas e capturavam milhares de escravos para serem vendido para o norte.
A captura ou negociação de escravos sempre esteve presente na história da humanidade. E não era uma questão de cor, e sim de guerra, de sentimento de superioridade de uma nação e principalmente de lucro. Os negros foram os últimos a serem escravizados, daí essa relação que temos hoje, mas já houveram escravos brancos de olhos azuis, índios, asiáticos e até mesmo europeus. Africanos já escravizaram brancos e negros. O mercado de escravos sempre foi lucrativo, e sempre se mostrou um excelente meio de mão de obra barata. Foram basicamente escravos das mais diversas cores e culturas que praticamente ergueram muitas cidades.
Quando os portugueses colonizaram Angola, estavam esperançosos de obter riquezas através do ouro, mas como não conseguiram, descobriram essa outra forma de obter lucro: exportando escravos.
A negociação de escravos estava prestes se tornar muito mais lucrativa com a enorme demanda que começava a chegar do Brasil. Vários navios negreiros saíam da África em direção à nova colônia.
Os negros eram amontoados nos porões dos navios como se fosse um tipo de mercadoria qualquer e muitos não sobreviviam às viagens.
Apesar de os africanos também tentarem resistir ao trabalho forçado, não tiveram o mesmo êxito que os índios, que estavam em sua própria casa contando com o apoio de seu povo. A coroa começou aos poucos a proibir a escravização de índios, mas nada tinha contra escravizar negros.
O mercado negreiro começava a lucrar bastante, as grandes propriedades no Brasil já possuíam inúmeros cativos e até mesmo a igreja usava essa força de trabalho, como no caso dos beneditinos, que foram um dos maiores proprietários de escravos no Brasil.
Possuir escravos era um sonho de consumo até mesmo dos próprios escravos libertos no Brasil. Houveram vários cativos, em destaque as mulheres, que após comprarem sua liberdade enriqueciam e se tornavam possuidores de vários outros escravos, sem contar os libertos que passavam a ganhar muito dinheiro traficando escravos.
A cultura escravista estava incrustada em boa parte das culturas do mundo como algo natural.
Mas revoltas e ataques dos cativos eram também muito comuns. Zumbi o famoso líder do quilombo dos Palmares, também possuiu escravos, apesar de os quilombos serem os refúgios dos escravos fugitivos. A vida dentro dessas fortificações era hierárquica e refletia muito a vida na África. Os negros que tentassem fugir de Palmares eram mortos, e várias vezes os rebeldes saíam para pilhar propriedades e roubar escravos, que continuavam exercendo o trabalho forçado no quilombo. Só eram livres aqueles que chegavam ao quilombo por livre e espontânea vontade, mas mesmo assim, não poderiam mais sair e deviam viver sob as leis do líder, nesse caso, Zumbi. O quilombo de Palmares fora derrotado por Domingos Jorge Velho.
A colônia crescia cada vez mais, cidades e villas eram formadas, e a política já se consolidara com as câmaras, os juízes e outros servidores que agiam sob ordens da coroa portuguesa.
A sociedade brasileira se formava basicamente em função de Portugal, que fazia de tudo para que nenhum navio estrangeiro levasse mercadorias da colônia, principalmente o açúcar, principal produto brasileiro.
Salvador era uma grande cidade da colônia e um grande centro de produção e exportação dos produtos e também de escravos. Obviamente se tornava atrativa para outros reinos.
A invasão holandesa
Salvador, Brasil, ano domini de 1624
Embarcações holandesas chegam em Salvador que é invadida e pilhada em menos de 24h. Mas os holandeses não conseguiram avançar mais, pois o colonos cercaram a cidade e em menos de um ano conseguiram expulsar os inimigos.
Mas passaram-se 5 anos e os holandeses voltaram a atacar, invadindo, dessa vez, Pernambuco. O interesse dos invasores era o mercado açucareiro, e a segunda invasão foi mais bem sucedida. Grandes batalhas ocorreram durante vários anos. Os colonos eram auxiliados por outras nações na tentativa de vencer os holandeses e retomar as áreas conquistadas. A população sob domínio holandês também se revoltara contra os estrangeiros e em 1654 os holandeses foram finalmente derrotados. Apesar da derrota, somente em 1661 um tratado de paz foi assinado entre Portugal e Holanda.
A união entre índios, brancos, negros e mestiços durante a guerra para derrotar os holandeses iniciou um sentimento de nação, de povo nativo, entre os habitantes do Brasil, que começava a entrar numa fase de desbravamento e conturbação.
A descoberta do ouro
Até então o Brasil era habitado e explorado somente na sua região litorânea, e começava a se fazer necessário o desbravamento de seu interior. A coroa e os comerciantes precisavam de mais área, de mais população e esperavam encontrar ouro e outros minerais preciosos.
Os bandeirantes e outros expedicionários começavam a avançar território adentro, saído da cada vez maior cidade de São Paulo, combatendo escravos fugitivos, ocupando terras e procurando ouro e diamantes.
Até que as primeiras minas de ouro foram descobertas por Manoel Borba Gato, seguidas por várias outras descobertas, inclusive e de diamantes por Bernardo da Fonseca Lobo, numa região que ficou conhecida por Diamantina. A maioria dessas minas se encontravam próximas, e assim era formada as minas gerais.
A essa altura, o Brasil já possuía boa parte de seu território explorado e habitado, mas o mercado açucareiro começava a entrar em crise e a população buscava outra forma de obter renda. A descoberta do ouro abria as portas para uma época muito conturbada.
Épocas conturbadas
O Brasil já era uma enorme colônia. A sociedade crescia cada vez mais e uma espécie de cultura brasileira ia se formando. Não só nos costumes, como também na questão étnica, a mistura de brancos, negros e índios criava uma nação peculiar. Muito da cultura africana e indígena era absorvida pelos habitantes, desde os alimentos até a música e a fala.
Por outro lado, Portugal estava diante de uma crise. Com o mercado açucareiro em baixa, a dependência da Inglaterra crescia cada dia mais, obrigando Portugal a abrir várias concessões para os britânicos.
A descoberta do ouro no Brasil fora a salvação de Portugal. Milhares e milhares de pessoas emigravam da metrópole para o Brasil, numa grande corrida para encontrar ouro. Pessoas de todos os tipos largavam tudo para ir para a colônia, desde nobres até prostitutas. O êxodo foi tão grande que a preocupação com o risco de ficar com a população baixa fez Portugal criar leis de emigração.
No Brasil a população do nordeste também começou a ir para a região das minas, e isso liquidou o que restava da produção de açúcar e transformou a área mais rica do Brasil numa região em decadência.
Com tantos portugueses e nordestinos chegando em busca de ouro, a população de São Paulo levantou armas para impedir que forasteiros viessem atrás de seu ouro, iniciando assim uma guerra, conhecida como Guerra dos Emboabas.
Os paulistas não obtiveram sucesso, mas conseguiram que São Paulo se tornasse uma capitania, separa do Rio de Janeiro. A coroa sedenta pelos lucros, investiu pesado em criar leis e controles para o mercado do ouro. A regra era bem simples, casas de fundição foram criadas e todos que achasse ouro deviam levá-lo para essas casas, que tiravam a quinta parte para a coroa e o restante era entregue em barras para o proprietário. Nunca antes Portugal havia interferido tanto na vida da colônia, tentando organizar, controlar e fiscalizar a extração do ouro para evitar perdas, caos e contrabando.
O contrabando era exercido até por padres, que carregando as estátuas de santos em pequenas procissões, estavam na verdade era secretamente levando ouro dentro dessas estátuas adaptadas, ou seja, eram os “santos do pau oco”.
Conspirações
Brasil, meados do século XVIII
Começava a chegar da Europa e demais partes do mundo a notícia da Independência do Estados Unidos, idéias e obras que pregavam a liberdade e a igualdade eram disseminadas pela populução. A revolução francesa marca profundamente a Europa com a queda do antigo regime, e no Brasil, mentes começam a se iluminar com idéias mirabolantes.
Marquês de Pombal, atual administrador dos assuntos da colônia, exerceu uma gerência mercantilista, mas relativamente frustrada e causou polêmica também com a expulsão dos jesuítas do Brasil e o confisco de seus bens.
Sobe então ao trono de Portugal a a rainha Maria I. Ela manda fechar todas as fábricas no Brasil e tenta de todas as formas realizar uma reforma política para fortalecer o absolutismo em meio a tantas idéias contrárias que vão surgindo mundo afora.
Conspirações e movimentações rebeldes começam a crescer em todas as partes do Brasil.
A sociedade mineira estava em decadência devido à queda da produção de ouro e as pesadas medidas da coroa para arrecadação.
Um grupo da elite mineira, levados por essa sensação de exploração e provavelmente por suas dívidas particulares que tinham com a coroa, começaram a conspirar contra Portugal e preparar um movimento de rebeldia. O provável objetivo era fundar uma República.
Um dos conspiradores arrumou uma forma mais fácil e rápida de resolver suas dívidas com Portugal: Silvério dos Reis fez um acordo com a coroa e delatou todos os conspiradores.
Todos foram presos, frustrando assim a Inconfidência Mineira.
Portugal precisava dar um exemplo e criou um longo julgamento com toda pompa e teatralidade possível. A leitura durou nada menos que 18 horas e condenava todos os conspiradores à forca. Pouco tempo depois chegava uma carta de clemência da rainha, transformando todas as penas de morte em banimento, com exceção de José Joaquim da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes. Ele fora o único a assumir a responsabilidade pela Inconfidência, e no dia 21 de abril de 1792, ele foi enforcado, esquartejado e teve sua cabeça exposta na praça principal de ouro preto.
O movimento mineiro nunca chegou a ser concretizado mas teve um valor simbólico, assim como várias outras rebeliões que aconteciam ou eram idealizadas.
Na Bahia, em 1798 pessoas de menor condição social, como mulatos, negros, comerciantes e alfaiates, começaram a defender a proclamação da república, o fim da escravidão e a liberdade. Formava-se a Conjuração dos Alfaiates.
Os conspiradores chegaram a distribuir panfletos, mas não conseguiram concretizar a rebelião, pois quando tentaram conseguir o apoio do governador da Bahia, começaram as prisões e as delações. Por serem de uma classe inferior a dos Inconfidentes mineiros, os conjurados baianos não ganharam uma carta de clemência. 4 foram enforcados e esquartejados e o resto banido.
Indícios do fim da colônia
As revoltas e conspirações no Brasil podem não ter funcionado efetivamente, mas coincidiam como se fossem bandeiras de profetas, com importantíssimos acontecimentos na Europa que marcariam o início de uma completa mudança no Brasil.
Parte 2
A ascensão de Napoleão
França, anno domini de 1791
Após a revolução francesa e a queda da monarquia absolutista, a França passava por uma conturbada fase onde tentava-se a todo custo impor os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.
Muito sangue foi derramado durante e principalmente após a revolução francesa. Intrigas, conspirações, paranóias por parte dos revolucionários e principalmente incidentes externos, levavam a França à uma batalha sem fim.
Os revolucionários começavam a perder o controle de sua revolução e a frança caminhava para o caos.
Temendo que as perigosas idéias francesas contaminassem seus reinos, vários outros países da Europa se uniram contra a França.
E durante as batalhas erguidas, se destacou um oficial que se mostrara extremamente habilidoso nas batalhas, e que com apenas 24 anos de idade, fora promovido a general.
Considerado um dos maiores gênios militares da história, Napoleão Bonaparte rapidamente ganhou poder enquanto vencia os exércitos estrangeiros e impunha a ordem na França. Rapidamente se tornou cônsul, recebendo assim poderes irrestritos, até que em 1804 se auto proclamou Imperador da França.
Invasões napoleônicas
Com o claro objetivo de subjugar toda a Europa, Napoleão mostrava cada vez mais sua genialidade militar. Reino após reino era derrotado pelas tropas francesas. Exércitos mais poderosos e numerosos eram vencidos pela estratégia ousada e movimentação rápida das tropas de Napoleão que passaram vários anos sem conhecer a derrota.
Protegida pelo Canal da Mancha, a Inglaterra era o único reino da Europa que ainda não estava ao alcance de Napoleão. Os ingleses eram no mar o que Napoleão era em terra, e por isso o imperador francês resolver atacar os Ingleses em outro ponto: na economia.
Napoleão decretou o bloqueio continental, fechando assim todos os portos europeus aos produtos britânicos e, dessa forma, isolando a Inglaterra do resto da Europa.
Mas ainda havia um pequeno, desprotegido, ultrapassado e solitário reino que possuía uma aliança com a Inglaterra e não podia acatar as ordens dos franceses e mantiveram seus portos abertos à Inglaterra: Trata-se de Portugal.
Portugal e seu dilema
A aliança de Portugal com a Inglaterra era baseada no temor. Os portugueses sabiam muito bem o que a potência inglesa fazia com reinos que quebravam suas alianças. Por isso os portugueses tentaram enrolar Napoleão e assim ganhar tempo para resolverem esse dilema.
O tempo era muito necessário aos portugueses que viviam num dos países mais atrasados da Europa, viram sua rainha perder o trono depois de ficar louca e eram agora governados pelo príncipe regente D. João VI.
D. João era conhecido por sua completa incapacidade de tomar decisões, deixando sempre esses assuntos mais graves nas mãos de seus ministros. Mas dessa vez o príncipe regente estava contra a parede: ou obedecia as ordens de Napoleão e era devastado pela Inglaterra ou mantinha sua aliança com a Inglaterra e era devastado por Napoleão.
As opções de Portugal
No ano de 1807, depois de os portugueses esgotarem todas suas manobras para ganhar mais tempo, as tropas napoleônicas iniciaram sua marcha em direção à Portugal.
Não havia mais espaço para indecisões. D. João VI estava a um passo de sua ruína.
Surge então uma oferta dos Ingleses para ajudar Portugal a sair de seu dilema. A Inglaterra ofereceu embarcar e escoltar a côrte portuguesa para o Brasil, onde estariam a salvo de Napoleão e de qualquer guerra. Era a sombra e a água fresca para os quais o Príncipe regente nascera.
A outra opção dos portugueses era enfrentar o exército francês junto com os ingleses. Mas essa idéia obviamente nem chegara perto de ser cogitada por um príncipe covarde e indeciso, portanto, finalmente a decisão estava tomada.
O embarque
No dia 6 de novembro de 1807, uma esquadra inglesa comandada por Sir Sidney Smith ancora na foz do Rio Tejo em Portugal. Nos navios, mais de 7000 homens compunham a tropa britânica, que estava ali com duas ordens: a primeira era embarcar, proteger e escoltar a corte Portuguesa até o Brasil. A segunda ordem, era, caso a primeira não fosse cumprida, bombardear Lisboa.
A idéia de abandonar Portugal e mudar a côrte para o Brasil não era nenhuma novidade. Várias vezes durante a história, essa sugestão fora cogitada, chegando ao ponto até de afirmarem que perder aquele pequeno país, completamente desprotegido na Europa, seria mais lucrativo. Contudo essa idéia nunca chegara a ser concretizada. Mas naquele novembro de 1807, não havia mais o que pensar e nem mesmo tempo a perder. Os franceses já estavam na fronteira.
Durante o amanhecer, uma correria e vai e vém de carruagens, carroças e pessoas, acontecia no porto. Com a decisão tomada de última hora, o embarque fora praticamente improvisado.
A rainha, o príncipe regente, seus filhos, sua esposa Carlota Joaquina e toda a côrte portuguesa se apressavam em embarcar diante de uma multidão de cidadãos que começava a se amontuar no porto e assistir incrédulos todo o governo português fugir para além mar.
A população se sentiu desamparada e completamente abandonada, e muitos apedrejavam as carruagens que iam passando em direção aos navios. O príncipe regente já havia perdido sua autoridade em seu reino. Oficiais dos fortes se recusaram as obedecer as últimas ordens do príncipe, dizendo que se ele queria fugir e abandonar seu povo, os oficiais passariam a receber ordens de quem quer que tomasse Portugal.
D. João VI limpara os cofres públicos para sua viagem, levando toda a riqueza à bordo dos navios. O embarque foi tão corrido e improvisado que muita coisa ficou para trás, até mesmo caixas com as obras da Real Biblioteca.
Os navios zarparam e enquanto ainda podiam ser vistos no horizonte, as tropas francesas chegaram à Lisboa.
Quando os franceses chegaram, ficou nítido que se o príncipe regente tivesse decidido ficar e lutar, teria facilmente ganho a batalha, pois, depois da longa e penosa marcha, os soldados franceses entraram em Lisboa mais parecendo mendigos do que soldados. Suas roupas estavam já encardidas e rasgadas, andavam praticamente descalços, magros, fatigados, e com as armas inutilizáveis.
A chegada no Brasil
Depois da longa e penosa viagem, no dia 22 de 1808 D. João aporta na Bahia. Os planos iniciais era que fossem direto para o Rio de Janeiro, mas por um mistério que permanece até hoje, D. João mudou os planos repentinamente, ordenando que a primeira parada no Brasil fosse na Bahia. Assim que chegou, o príncipe decretou a abertura dos portos às nações amigas, e após algumas semanas, D. João vai definitivamente para o Rio de Janeiro.
A nova vida no Brasil
Diante da transferência da sede da monarquia para o Brasil, com a capital no Rio de Janeiro, a vida na colônia mudou muito.
O acesso aos livros e a vida cultural eram uma grande novidade para os Brasileiros. Além disso, academias literárias e científicas foram criadas, teatros e bibliotecas erguidos e novas idéias circulavam por todos os cantos. Em setembro de 1808 o primeiro jornal foi publicado no Brasil.
Todas essas mudanças vinham para atender a necessidade da côrte, mas que refletiu em toda a população. O Rio agora estava predestinado a ser a região mais rica da colônia, tanto econômica quanto culturalmente. Nesse mesmo ano, D. João VI criou o Banco do Brasil.
O príncipe trouxe tropas de Portugal para policiarem as principais cidades brasileiras, e o clima de monarquia crescia cada vez mais.
Outro choque cultural foi o fato de que os brasileiros não estavam acostumados a ter reis e príncipes perambulando pelas ruas e não tinham nenhuma noção dos protocolos a serem seguidos diante de uma côrte. Dizem que Carlota Joaquina dava chiliques exigindo que todos na rua se ajoelhassem quando sua carruagem passasse pelas ruas. Tudo isso era muito novo para os colonos.
Mas não só nos costumes houve mudança: o destino do Brasil mudara completamente com a vinda da côrte, fazendo com que os dias de colônia entrassem em contagem regressiva.
A independência
Pouco depois da chegada da côrte, um sentimento de revolta começou a crescer no nordeste, que recebia seu golpe de misericórdia quando o Rio se tornara capital. As desigualdades regionais aumentaram, muitas pessoas migraram para o Rio de Janeiro, dobrando sua população, e em 1817 estoura a Revolta Pernambucana.
A essa altura, Napoleão Bonaparte, já havia sido derrotado, em 1815 na batalha de Waterloo, e estava preso na ilha de Santa Helena, o que amenizava os problemas da coroa com suas posses na Europa, mas outros problemas começariam a vir de todos os lados.
Descontentes com os privilégios dados aos portugueses no Brasil, pessoas de várias classes e camadas, como militares, padres, comerciantes, juízes e proprietários rurais, se rebelaram e tomaram Recife, proclamando um governo provisório. A revolução durou menos de três meses, até que os revoltosos foram derrotados e seus líderes executados. Mas isso era somente um sinal do que estava por vir.
Após a morte da Rainha D. Maria, D. João se tornara rei de Portugal e do Brasil. E em Portugal uma revolta política acontecia, pois o desamparado povo português concluiu que a monarquia absolutista estava ultrapassada, e exigiram o retorno do rei.
Dom João, sob pressão, volta para Portugal, deixando seu filho, Dom Pedro I, como príncipe regente do Brasil.
Nos meses seguintes iniciaram-se eleições para as cortes no Brasil, onde quase todos os eleitos foram brasileiros. D. Pedro I promoveu várias mudanças na colônia, mostrando os primeiros passos para uma independência, e isso não agradou aos portugueses, que enviaram ordens para que as principais repartições criadas por D. João VI no Brasil se transferissem para Lisboa, e também enviaram novas tropas para o Rio de Janeiro e exigiram o retorno à Portugal do príncipe regente D. Pedro I, para assim concluírem o processo de transformarem o Brasil novamente numa simples colônia.
Nitidamente favorável à causa brasileira, D. Pedro I recebeu inúmeros pedidos para que não voltasse à Portugal, e foi então que ele proferiu a famosa frase:
“Se é para o bem de todos e para a felicidade geral da nação, estou pronto! Digam ao povo que eu fico.” Esse dia de 9 de janeiro de 1822 ficou conhecido como o Dia do Fico.
O príncipe regente logo passou a fazer novas mudanças e seus atos se mostravam claramente como atos de ruptura com Portugal, como expulsar soldados e oficiais que se recusassem jurar lealdade à ele.
Novas ordens chegavam de Lisboa revogando os decretos do príncipe, acusando os ministros de traição e novamente exigindo a volta de D. Pedro à Portugal. Mas o Brasil já estava preparado.
Após a chegada do último despacho com as ordens portuguesas com as acusações de traição, mandaram um mensageiro ir o mais rápido possível atrás de D. Pedro, que estava em viagem para São Paulo, e dar-lhe as notícias.
O mensageiro alcançou a carruagem do príncipe no dia 7 de setembro de 1822, nas margens do Riacho Ipiranga, e ali, D. Pedro deu o chamado grito do Ipiranga, oficializando a Independência.
O primeiro reinado
O Brasil estava finalmente independente de Portugal, e deixava definitivamente de ser uma colônia, e sendo governado por D. Pedro I, a tendência de tudo era agora melhorar e servir unicamente os interesses brasileiros.
Após alguns conflitos armados e várias mediações, a independência do Brasil fora reconhecida por outros países e até mesmo por Portugal que, como condição, impôs o pagamento de 2 milhões de libras para compensar sua perda, e a necessidade de pagar essa indenização foi o motivo da primeira dívida externa Brasileira, que teve que pegar o dinheiro emprestado com a Inglaterra.
Assim que foi coroado, D. Pedro se focou na elaboração da constituição brasileira. Uma assembléia constituinte foi formada, mas logo desavenças e intrigas começaram a rondar os políticos, o que resultou em D. Pedro dissolver a assembléia, com apoio do exército e ele mesmo elaborar a constituição.
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Nos Estados Unidos, aquele tão famoso documento começa assim: “Nós o povo…”
No Brasil, provavelmente poderia começar assim “Eu o rei…”
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Contudo, a constituição de D. Pedro não era muito diferente daquela elaborada pela assembléia.
O reinado de D. Pedro I foi predestinado a ser um curto reinado de transição, a situação política, social e econômica estavam muito instáveis após o abalo da independência. Disputas de poder e mais intrigas marcavam essa conturbada fase.
Em 1825, uma rebelião declarou a separação do Brasil, formando as Províncias unidas do Rio Prata, onde mais tarde seria a Argentina. Essa rebelião logo levou o Brasil à uma guerra de grandes proporções contra Buenos Aires.
Essa guerra foi um desastre militar, político e econômico para o Brasil, que fora derrotado em 1827. Na verdade, ambas as partes se viram numa catástrofe financeira. Internamente Brasil começava a ruir com aumento dos preços devido à falsificação de moedas, e o recrutamento militar obrigatório por causa da guerra. Os populares estavam também especulando que D. Pedro tinha planos de voltar aos tempos de reino unido, de Brasil e Portugal, já que D. João VI tinha morrido e D. Pedro era o herdeiro do trono português.
A impopularidade de D. Pedro começou a fazer políticos e até o exército se afastarem dele. As desavenças entre portugueses residentes no Brasil e brasileiros cresciam cada dia mais. Os brasileiros chamavam os portugueses pejorativamente de pés-de-chumbo, enquanto os portugueses revidavam chamando os brasileiros de cabras.
Então em 7 de abril de 1831, em favor de seu filho, nascido no Brasil e considerado brasileiro, D. Pedro I abdicou do trono.
A regência
Dom Pedro II ainda era uma criança quando o pai abdicou do trono, e por isso até que ele atingisse a maioridade, o Brasil seria regido por figuras políticas.
A essa altura, outro problema chegava ao Brasil. Dependente da Inglaterra, o Brasil se via pressionado pelos britânicos à abolir a escravidão. Mas o Brasil era mais dependente ainda dos escravos, e depois de várias negociações aceitou cessar de vez o tráfico de escravos, mas mantendo os escravos já existentes.
Os ingleses passaram a patrulhar a costa brasileira abordando navios em busca de traficantes negreiros, e o governo brasileiro, para agradar os ingleses, acabou sendo obrigado a criar uma lei em 1831, que aplicava severas penas aos traficantes e declarar livres todos os escravos que tivessem chegado após essa data.
Contudo, a importação de escravos aumentava cada vez mais, as autoridades faziam vista grossa para os traficantes e os poucos que iam a julgamento eram absolvidos pelos juízes. O Brasil precisava de escravos e dependia da Inglaterra, por isso a lei de 1831 foi definida por uma expressão usada para diversos fins até hoje, ou seja, foi uma lei “para inglês ver”.
A regência foi uma fase de mais mudanças e conflitos, já que os políticos se viam agora diante da dificuldade de saírem completamente do absolutismo. As tentativas de adotar medidas mais liberais e que garantissem direitos individuais sempre terminavam em choques entre as elites e os grupos locais.
Inúmeras revoltas começaram a surgir, e boa parte delas clamavam a subida ao trono de D. Pedro II. Milhares de pessoas morriam nas batalhas e o liberalismo adotado pela regência abria as portas para mais revoltas, motivadas por disputas de poder e até mesmo separatismo.
A guerra dos Farrapos
No Rio Grande do Sul, a população descontente se achava explorada pelo governo através de impostos, vendo suas riquezas serem retiradas de lá para sustentar outros estados, e um movimento separatista começava a se formar com mais força, e com apoio oficiais do exército, de revoltosos imigrantes italianos e liderados por figuras como Giuseppe Garibaldi e Bento Gonçalves, tem início, em 1835, a Guerra dos Farrapos.
Também conhecida como farroupilha, a guerra teve grandes proporções e durou vários anos. Os separatistas criaram a República do Piratini, e Bento Gonçalves foi nomeado presidente. Garibaldi levou a guerra para o norte da província e assumiu e conquistou Santa Catarina.
O governo central do Brasil enquanto combatia tentava fazer concessões aos revoltosos, como diminuição de impostos. Após várias batalhas e negociações, em 1845 os revoltosos e o governo central assinam a paz, com condições como anistia de todos os revoltosos, integração dos oficiais revoltosos, de acordo com suas patentes ao exército brasileiro e que o governo assumisse todas as dívidas da então República de Piratini.
Durante toda a agitação do país, a política ia se formando e se estruturando. Dois partidos políticos começavam a surgir, o Conservador e o Liberal. As disputas políticas acabaram levando ao poder o conservador Pedro de Araújo Lima, o Marquês de Olinda, que marcou o início do regresso para a centralização política, retirando das províncias vários de seus poderes. E para que as coisas não piorassem, os liberais só tinham uma saída paradoxal: apressar a ascensão ao trono de D. Pedro II.
O segundo reinado
Os liberais anteciparam no congresso a maioridade do rei, fazendo assim com que em 1840 subisse ao trono, com apenas 14 anos de idade, o imperador D. Pedro II.
Os partidários achavam que conseguiriam manipular o rei e assim atingir seu objetivos. Apesar de no início a idéia ter funcionado, com o passar do tempo não foi isso o que aconteceu. O rei tomou as rédeas.
A reinado de D. Pedro II foi marcado pelo fortalecimento da política parlamentar e principalmente pela modernização do país.
O monarca trouxe ao Brasil novas invenções como o telefone, investiu na educação, na cultura e nas artes, se mostrando um governante muito dedicado ao país. O seu reinado é muitas vezes chamado de época de ouro do Brasil. O povo o via como uma figura paternal e passava a adorá-lo. Nunca, até então, houve tanta liberdade de expressão como na época, onde o rei não punia nem censurava até mesmo publicações com críticas e perjúrios à seu governo e sua pessoa. A monarquia brasileira estava atingindo sua plenitude com o apoio do povo.
Dom Pedro II também fez várias investidas para abolir a escravidão, e algumas vezes fora criticado por isso, pois o proprietários chamavam a abolição de suicídio econômico do país.
Contudo, Dom Pedro II estava prestes a enfrentar um grande desafio…
A guerra do Paraguai
11 de novembro de 1864
O Paraguai era um pequeno país governado por Solano López, através de um espécie de ditadura. Apesar de ter conseguido se desvencilhar das dependências externas e começar a investir na modernização, o Paraguai ainda era um país atrasado e se afogava em burocracia.
Solano López sempre pregou seu repúdio às supostas pretenções imperialistas brasileiras, principalmente quando se trata do Uruguai, que sempre teve fortes influências brasileiras e era motivo de disputas entre os vizinhos. O Uruguai tinha dois grupos partidários e rivais predominantes os blancos e os colorados. O Brasil apoiava os colorados enquanto López decidiu se aliar aos blancos para tentar sair do isolamento.
Com os blancos do poder, chegavam notícias de que cidadãos brasileiros estavam sendo vítimas de violência no Paraguai. Somando isso com a necessidade de colocar os colorados no poder, o império invadiu o Uruguai.
Solano López afirmando que o expansionismo brasileiro e argentino iriam sufocar o Paraguai, imediatamente aprisiou um navio brasileiro em seu território e logo em seguida lançou um ataque ao Mato Grosso. Começava então, a Guerra do Paraguai.
López contava com muito mais soldados que o Brasil, e por isso talvez tenha criado um complexo de superioridade ao ponto de declarar guerra ao maior país do continente, já que o Brasil demoraria ainda mais de 5 meses para conseguir reagir aos ataques, pois fora obrigado à modernizar e dar cara ao seu exército, aumentando salários, promovendo campanhas de alistamento e fortalecendo a forças armadas como uma instituição.
O líder paraguaio parte então para outra investida, dessa vez objetivando atacar o Rio Grande do Sul. Mas para chegar lá ele precisaria atravessar uma pequena região da Argentina. Pediu autorização aos argentinos, mas o pedido foi negado. Com essa suposta afronta, Solano também declara guerra ao segundo maior país da América do Sul. Forma-se assim a tríplice aliança, e o Paraguai estava praticamente cercado de inimigos.
A guerra era sangrenta. Durante as batalhas o exército brasileiro ia ganhando cada vez mais profissionalismo, mais soldados inscritos e mais estrutura. Com vários erros táticos, o Paraguai perdeu importantes batalhas em que estava com a vantagem e acabou cercado de forma que não conseguia mais receber armas e suprimentos importados da Europa. O Paraguai perdeu outra grande batalha, dessa vez com a presença do Imperador Dom Pedro II e do presidente argentino, mas de 17.000 soldados das forças aliadas venceram e libertaram a cidade gaúcha de Uruguaiana. As baixas paraguaias beiravam 50.000 pessoas, o que era um número muito elevado para um país tão pequeno e com a população tão baixa, enquanto os aliados haviam perdido 20.000.
À essa altura não havia mais chances para o Paraguai, mas Solano López não se rendeu, e quando já não havia mais soldados suficientes, começou a alistar velhos e crianças para continuar a guerra, até que em 1870, depois de ter seu acampamento cercado, López é morto pelas tropas brasileiras.
O Paraguai ficou arrasado. Várias de suas terras foram tomadas pelo Brasil e Argentina, metade de sua população tombara na guerra, sua modernização se acabara e seu futuro já não tinha mais horizonte.
O fim da monarquia
O governo de D. Pedro II era cada vez mais celebrado, a vitória na Guerra do Paraguai ajudou na campanha de patriotismo que o rei disseminava, e talvez agora o Brasil estivesse livre para a prosperidade.
Mas nada é um mar de rosas. Crises começaram a surgir com o movimento republicano, contrário à monarquia e também com impasses entre o governo e a igreja.
Com a sanção da lei abolicionista assinada pela Princesa Isabel, idéia fortemente apoiada por D. Pedro, alguns grupos da elite também ficaram insatisfeitos com o governo.
Apesar de todas as medidas que D. Pedro II tomou para a liberdade tanto política quanto social, vários grupos ainda achavam que muito mais poderia ser feito e que a monarquia era um empecilho para isso.
Foi assim, com fortes influencias da igreja, do exército e de algumas elites que o movimento republicano viu que a queda da monarquia era inevitável.
Sob o comando de Deodoro da Fonseca, as tropas republicanas marcharam até o ministério da guerra, onde estavam os líderes monárquicos, e ali provavelmente proclamou a república.
Dom Pedro II era admirado e respeitado até mesmo pelos oficiais e republicanos, e por isso nenhum teve coragem de tratar o assunto diretamente com ele, enviando as mensagens através de subordinados. O rei deposto e sua família deveriam deixar o Brasil. D. Pedro II aceitou pacificamente sua deposição e sob grande salva da população e até mesmo de oficiais e soldados que ergueram suas armas em continência, a família Bragança e Hapsburgo embarcou para o exílio e deixou de reinar.
Era o fim da monarquia no Brasil.
Parte 3
O boom da primeira república
Porque o Brasil se tornara república? Quais foram os principais motivos de derrubar a monarquia? Será que o bem do povo em geral era o ideal que regia os republicanos em sua marcha?
Não podemos somente olhar para os supostos atos heróicos, devemos olhar para seus motivos, uma vez que esses podem ser a resposta para a pergunta: o que vem a seguir?
Após a proclamação da república o marechal Deodoro da Fonseca assume o governo provisório e muitos oficiais militares foram eleitos para o Congresso Constituinte, fortalecendo assim o poder político do exército.
A primeira constituição republicana estava sendo redigida e foi promulgada em 24 de fevereiro de 1891, inspirada no modelo norte-americano e dando autonomia para os estados, abolindo a pena de morte em épocas de paz e instituindo o direito à segurança individual e à propriedade. Era consagrada a República Federativa do Brasil.
Deodoro da Fonseca foi eleito presidente da república e Floriano Peixoto vice presidente. O governo de Deodoro, ironicamente foi marcado por crises, intrigas e também pela censura e autoritarismo. O congresso foi fechado e toda a pressão formada acabou levando Deodoro da Fonseca à renúncia e a subida ao poder de Floriano Peixoto, que teria seu curto governo lembrado por ser uma ditadura militar e recheado de guerras.
Uma dessas guerras ensanguentou o sul do Brasil, uma das regiões mais instáveis do Brasil, quando republicanos históricos e os federalistas se enfrentaram.
Os federalistas avançaram sobre Santa Catarina e se juntaram aos integrantes de outra revolta que acontecia, a Revolta Armada, iniciada por marinheiros numa rivalidade contra o exército. Com essa força os federalistas tomaram Curitiba, mas foram obrigados a recuar, concentrando suas forças no Rio grande do Sul. A essa altura, o mandato de Floriano Peixoto acabara e fora eleito à presidência o paulista Prudente de Morais, contrário às idéias de Floriano. Era praticamente o fim da presença do exército na presidência.
Depois de um acordo mediado por Prudente de morais, a Revolta Federalista se encerrou, mas com a oposição que se tornara aguda, mais intrigas e revoltas acontecendo, o governo ainda iria enfrentar desafios piores, como foi o caso da Guerra de Canudos.
um grande confronto entre o exército e uma força popular liderada por Antônio conselheiro que havia fundado um povoado no interior da Bahia e, através de uma pregação sócio-religiosa, havia atraído milhares de seguidores, incomodando a igreja e o estado, que deu o primeiro golpe. Conselheiro venceu várias batalhas, mas acabou derrotado em 1897. Os políticos republicanos chamaram essa guerra de luta da civilização contra a barbárie, mas nas palavras de Bóris Fausto: Havia barbárie em ambos os lados, e mais ainda entre aqueles homens instruídos que tinham sido incapazes de pelo menos tentar entender a gente sertaneja.
Em 1898 Prudente de Morais é sucedido por Campos Sales, e em seguida Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Venceslau Brás, Delfim Moreira, Epitácio Pessoa, Arthur Bernardes e finalmente Washington Luís, o último presidente da república velha.
A situação do Brasil na República Velha
Durante esses anos, o Brasil vivia uma situação relativamente conturbada, com uma política de oligarquias, ou seja, para poucos, onde os estados, na prática, eram controlados por um pequeno grupo de políticos. Passava também por graves problemas financeiros e a dívida externa a cada ano ficava maior.
Enquanto o país vivia a época do café-com-leite, ou seja, de modo grosseiro, um governo com fortes influências de Minas Gerais e São Paulo, o coronelismo também ganhava mais espaço em várias regiões do Brasil.
Para o bem ou para o mal, o país estava se moldando através de todas essas políticas.
Até 1930 o Brasil estava recebendo milhões de imigrantes europeus e asiáticos, que vinham em busca da prosperidade no novo mundo. A grande presença desses imigrantes nas cidades e no campo estava moldando e muito a cara multicultural do Brasil. Desde a gastronomia até aos hábitos, os imigrantes foram responsáveis por fortes influencias culturais entre o povo brasileiro. Havia pequenas vilas onde nem sequer se falava o português. Muitos imigrantes prosperam, outros foram maltrados em trabalho quase escravo no campo, o que não era raro nessa época, havendo até reclamações do consulado e medidas de outros países.
As cidades cresciam rapidamente e São Paulo se destacava em sua urbanização e crescimento populacional, pois além de ser um importante polo de produtos importados, havia espaço para todo tipo de comércio e era vista como a cidade para se subir na vida.
Assim também crescia a indústria em várias regiões do Brasil, prevalecendo a indústria têxtil.
A Amazônia, se enriquecia como num sonho, com o avanço da produção de borracha, muito requisitada para produção de bicicletas e mais ainda para a de carros, na virada do século. Assim essa região se tornara chamativa para imigrantes do Brasil e do mundo, que vieram a se deprimir quando em 1910 uma crise devida à queda de preço da borracha jogou a economia amazônica no chão. Da riqueza e bons tempos da Amazônia só sobraram os belos e luxuosos teatros de Belém e Manaus.
Por todo o Brasil movimentos sociais começaram a surgir desde classe operária até aos trabalhadores rurais. Um desses movimentos se destacou também pela influência religiosa, formando-se em em volta de uma conhecida figura do nordeste, o Padre Cícero Romão Batista. Padim Cícero, como era conhecido, reunia fiéis, em Juazeiro para rezar e fazer promessas nos períodos de seca. Ganhou fama de milagreiro e incontáveis pessoas se mudaram para Juazeiro ou iam visitá-lo em enormes romarias.
O padre Cícero logo se tornou um coronel, chocando-se com as autoridades católicas e se envolvendo militarmente em lutas políticas. Muito do desenvolvimento da região se deu por conta do padre e, mesmo depois de sua morte, a devoção do povo continuou, tornando-o assim uma espécie de santo.
Os últimos anos da república velha
Nos últimos anos da república velha, crises e greves eram constantes. Com influências vindas da revolução russa, surge o Partido Comunista do Brasil, que criou fortes laços com a classe operária. E obviamente os comunistas tentaram fazer a revolução vermelha no Brasil também.
Enquanto o Brasil passava pelo movimento tenentista, onde oficiais do exército se rebelaram contra o governo, um capitão de nome Luís Carlos Prestes se destacou ao iniciar uma marcha armada de mais de 24.000 kilômetros pelo interior Brasil, que ficou conhecida como a Coluna Prestes.
O objetivo dessa marcha era disseminar a idéia de revolução e receber apoio popular contra as oligarquias.
O apoio popular nunca aconteceu e, documentos recentes mostram que talvez o motivo disso estivesse nos inúmeros saques, estúpros e torturas que resultavam da passagem da coluna pelas pequenas cidades rurais. Em 1927 a marcha se deu por terminada e seus membros se refugiaram em países vizinhos.
A revolução de 30
3 de outubro de 1930
Após anos de crises, revoltas, intrigas e disputas políticas e o refreamento da modernização econômica por conta das oligarquias e sua política arcaica, tem início uma revolução armada encabeçada pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul.
A faísca para a revolução aconteceu quando São Paulo, através do presidente Washington Luís apoiando seu conterrâneo Júlio Prestes para a sucessão, acaba com a política do café-com-leite, onde a presidência do Brasil era alternada por paulistas e mineiros.
A revolução foi vitoriosa e o presidente Washington Luís foi deposto. Júlio Prestes vence as eleições mas não chega a exercer o mandato, pois um golpe de estado coloca Getúlio Vargas no poder, e depois de derrotados todos os focos de resistência, tem início a Era Vargas.
A era Vargas
Herói ou vilão? Essa talvez seja a pergunta a se fazer sobre Getúlio Vargas e seu governo. Getúlio exerceu o poder como uma espécie de ditador populista e autoritário e foi o responsável pela criação do estado intervencionista e corporativista que persiste até hoje.
Mas ganhou grande simpatia do povo colocando na lei os direitos trabalhistas, principalmente o salário mínimo, sendo chamado de “Pai dos Pobres”, criou a carteira de trabalho, as férias remuneradas, a semana de trabalho de 48 horas . Getúlio não pode ser chamado de um homem mal. Se dedicou de forma incansável ao país, investiu muito na área de infraestrutura e criou a Companhia Siderúrgica Nacional, a Vale do Rio Doce e a Hidrelétrica do Vale do São Francisco e também criou o IBGE. Mas é claro que também não podemos, nem de longe, chamá-lo de santo.
Com muita habilidade política, Getúlio conseguia agradar à todos, ganhando até outra definição: pai dos pobres e mãe dos ricos.
Poucos anos após Getúlio assumir o poder, o então comunista Luís Carlos Prestes volta de Moscou, apoiado por Stalin que lhe cedeu um grupo de terroristas e revolucionários experientes para tramarem e executarem a derrubada de Vargas e fazer a revolução comunista no Brasil.
Mas Prestes não foi cuidadoso o bastante e acabou enviando bilhetes de convites de adesão ao golpe até mesmo para pessoas que estavam do lado do governo.
Quando chegou o dia do golpe, até mesmo a inglaterra já sabia dos planos comunistas e os conspiradores foram presos antes mesmo de começarem a agir.
No dia 9 de março de 1936, a polícia prendeu Prestes e a agente soviética Olga.
No ano seguinte, a polícia militar cerca o Congresso e impede a entrada dos congressistas, e durante a noite Getúlio Vargas anuncia uma nova fase política, entrando em vigor uma Carta constitucional, era o início do autoritário e modernizador Estado Novo.
O Brasil e a segunda guerra
5 de agosto de 1942
A segunda guerra mundial havia estourado. O Brasil se declara neutro, talvez por motivos econômicos. Os Estados Unidos estavam preocupados com as antigas relações de Vargas com Hitler e Mussolini, a caso o Brasil passasse para o lado do eixo, poderia ser uma grande vantagem estratégica para os nazistas.
Mas nesse dia, submarinos alemães começam um ataque e afundam 5 navios mercantes brasileiros.
A comoção nacional se tornou uma grande pressão para que o Brasil finalmente tomasse partido abertamente e declarasse guerra contra o eixo.
Ainda hoje alguns dizem que essa história está mal contada, e que talvez os navios brasileiros foram afundados pelos americanos, como tentativa de jogar o Brasil contra o eixo. Mas historiadores afirmam que essa teoria não tem fundamentos.
A queda de Vargas
Pouco depois do fim da guerra, Getúlio Vargas viu grandes forças políticas se posicionarem contra ele, só esperando uma chance para tirá-lo do poder.
Foi então que em Gaspar Dutra e Goiás Monteiro cercaram com forças blindadas o palácio Guanabara. Getúlio Vargas renuncia, e é o fim do Estado Novo.
Assume o governo Eurico Dutra. Mas nas eleições seguintes, já em em 1951, quem assume a presidência com a maioria dos votos é nada menos que Getúlio Vargas. De volta ao poder, dessa vez sem golpe, Getúlio promove novas mudanças e melhorias, criando também a Petrobrás.
Contudo, depois de 3 anos, Getúlio entrava em choque com os interesses de grupos conservadores e até mesmo com o exército. A oposição, coordenada pelo inimigo político Carlos Lacerda, esperava um evento traumático que levasse as forças militares a agirem e deporem o presidente. E esse evento aconteceu em 5 de agosto de 1954, quando um pistoleiro tentou assassinar Carlos Lacerda, mas acabou matando o major da aeronáutica Rubens Vaz, que estava ao seu lado.
Esse ato se virou contra Getúlio Vargas. A oposição agora tinha a revoltada opinião pública e a aeronáutica a seu favor. Surgiu um enorme movimento pela renúncia de Getúlio.
Foi então que em durante a manhã de 24 de agosto, no palácio do Catete, Getúlio Vargas se mata com um tiro no peito.
Em sua carta testamento, Getúlio se posiciona como vítima e acusador de inimigos políticos. Sua carta é encerrada de forma dramática:
“Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”.
O suicídio do presidente deixou claro o apoio popular que Getúlio possuía. Em todas as grandes cidades uma enorme massa de revoltosos saíram às ruas quebrando tudo o que fosse antigetulista, como caminhões do jornal O Globo.
Algumas pessoas alegam que Getúlio não cometera suicídio. Ou melhor, que suicidaram ele.
Juscelino Kubitschek
Em 3 de outubro de 1955 é eleito presidente o médico Juscelino Kubitschek. O novo presidente sobe ao poder numa época muito conturbada. Fora necessário um golpe preventivo das forças armadas, ou seja, um golpe não para depor um presidente, e sim para garantir que ele tomasse posse.
Os anos de presidência de JK foram de estabilidade política. Os altos índices de crescimento econômico criaram um otimismo geral. Não só por isso mas também por um grande sonho realizado: a construção de Brasília, os lemas do governo JK foram repercutidos: Desenvolver para sobreviver, Pra cima e pra frente e 50 anos em 5.
JK se tornara um exemplo de presidente, um herói político até hoje admirado.
O Regime Militar
Em 31 de janeiro de 1961, acaba o mandato de JK. Juscelino e Sara Kubitschek saem de brasília para dar lugar ao primeiro presidente eleito a tomar posse no distrito federal, Jânio Quadros, que sem apoio político e se preocupando muito com assuntos pitorescos, acabou renunciando pouco tempo depois de tomar posse.
Sobe ao poder seu vice, João Goulart.
O governo de Goular ou, Jango como era conhecido, foi marcado pela abertura a movimentos como o estudantil, o operário, organizações populares e trabalhadores começavam a ganhar muito espaço.
A preocupação com essa abertura e uma tendência socialista com fortes chances de uma revolução comunista começaram a preocupar os empresários, a igreja católica, os militares e a classe média. A preocupação tomou conta até dos norte-americanos, enroscados na guerra fria e completamente receosos com uma expansão comunista.
Todas essas preocupações levaram o país à uma crise política que parecia beirar uma revolução. E em 31 de março de 1964 tropas mineiras e paulistas saem às ruas. Jango foge para o Uruguai e os militares tomam o poder.
Em 9 de abril é decretado o Ato Institucional númer 1, ou o AI-1, onde políticos opositores perdem o mandato e os servidores públicos perdem a estabilidade. Era o início do Regime Militar.
O general Castello Branco é eleito presidente da república pelo voto indireto, ou seja, do congresso. Prometendo defender a democracia, logo se mostrou autoritário. Dissolveu os partidos políticos, interferiu nos sindicados e cidadãos perderam seus direitos políticos e constitucionais. Só foram permitidos dois partidos políticos, a Aliança Renovadora Nacional, ou ARENA, dos militares e o Movimento Democrático Brasileiro, que representava a oposição, mas era envolto pelos tentáculos do governo.
Em 1967 é a vez de Arthur da Costa e Silva assumir a presidência pelo voto indireto. Greves, protestos e manifestos marcaram seu governo. Movimentos de guerrilha começaram a se formar com os idealistas de esquerda. Assaltos a bancos, sequestros e atentados foram fizeram parte desses movimentos. Ameaçado por essa onda comunista, o regime decreta então o terrível Ato Institucional Número 5, ou o AI-5. Dentre várias outras duras medidas, estava o aumento da repressão policial e militar.
Costa e Silva adoeceu e governo passou para uma junta militar composta de um membro do exército, outro da marinha e outro da aeronáutica. Os grupos de esquerda MR-8 e ALN sequestram o embaixador dos Estados Unidos. Após essa afronta o governo decreta a Lei de Segurança Nacional, que promove o exílio e a pena de morte para casos como esse. No final de 69 o líder da ALN é morto pelas forças de repressão.
A junta militar escolhe então o novo presidente e sobe ao poder Emílio Garrastazu Medici. Apelidado de Emílio Carrasco-Azul Medice, foi considerado o mais repressivo, e seu governo foi chamado de “Anos de Chumbo”. A censura toma sua mais terrível forma e age sobre jornais, revistas, filmes, peças de teatro, música e qualquer outra forma de expressão artística. Professores, políticos, artistas e diversas outras pessoas foram investigadas, presas e torturadas. Espiões do governo estavam infiltrados nas escolas, universidades, peças de teatro e as pessoas tinham medo de falar de política até em bares e restaurantes. A guerrilha rural ganha força mas começa ser esmagada pelos militares.
Contudo, na área econômica acontece o que é chamado de Milagre Econômico. E economia crescia rapidamente, o PIB subia a 12% ao ano. Com investimentos na infraestrutura, milhões de empregos foram gerados e obras como a transamazônica e a ponte Rio-Niterói mostravam o avanço. Mas do outro lado da moeda, a dívida externa crescia na mesma proporção.
Em 1974 sobe ao poder o general Ernesto Geisel, que acaba com o AI-5 e inicia o processo de redemocratização. Ele investe em uma abertura política lenta e segura.
O processo da transição para a democracia é acelerado com a vitória do MDB. Assume a presidência o general João Batista Figueiredo, que decreta a lei da anistia que permitia o retorno ao Brasil de políticos e demais exilados e condenados pela ditadura. Apesar desse processo, vários militares mais tradicionalistas continuam com atentados a bomba e assassinatos. Vários partidos foram permitidos à voltar à ativa.
Com o caminho já traçado e as portas abertas, finalmente, em 1984, milhões de brasileiros participam do movimento Diretas Já. Mas a emenda que permitiria o voto direto não foi aprovado pela câmara dos deputados.
Mas no ano seguinte o colégio eleitoral elege Tancredo Neves como presidente da república. Mas Tancredo adoece e morre antes de assumir o poder, o que faz com que seu vice, José Sarney assuma o cargo. Era o fim do regime militar.
Em 1988 uma nova constituição é aprovada eliminando todas as medidas e mudanças feitas pela ditadura. E o país finalmente se tornava democrático.
Epitáfio
Quando olhamos a história como um todo, numa viagem breve e superficial, é muito fácil julgarmos e definirmos os vilões e os heróis. Os militares e os comunistas tiveram seus monstros e suas monstruosidades, e ainda bem que nem um nem outro prevalesceu. Os monarquistas e os republicanos também tiveram seus vilões. E até mesmo voltando lá no descobrimento: índios, portugueses, escravos negros e brancos… Todos possuíram seus vilões, que erraram, que gostaríamos de esquecer.
Nosso país hoje ainda vive com vários fantasmas do passado. Vesquícios dos terríveis erros da ditadura e de governos anteriores, vesquícios dos erros até mesmo dos que lutaram contra a ditadura. Todos erraram, mas o bem prevalesceu. E hoje precisamos nos livrarmos desses fantasmas. Entendermos que não há mais motivo para se ter medo de exigir nossos direitos, pois nós os temos, muitas vezes não são cumpridos pois se aproveitam desse fantasma que ainda impede muita gente de gritar, de reclamar de exigir o que é seu. Os políticos são os funcionários do povo.
Mas como a história no mostra, tudo faz parte de um processo, por vezes lento, mas que no final gerará resultados, mesmo que obstáculos surjam no caminho. E assim espero.
Senhoras e senhores, me foi uma honra compartilhar essas quase 2 horas da trilogia sobre o Brasil com vocês. Agradeço imensamente à todos os comentários, a audiência e o imenso carinho. E lembrem-se:
O Brasil é multicultural, é rico, é cheio de recursos e possibilidades. O Brasil é índio, é alemão, é português, é italiano é árabe, japonês… tudo isso torna o brasil numa nação diversificada, cheia de belos horizontes, de boas perspectivas e de esperança. Éum país em busca da ordem e do progresso.
Um grande abraço, e fiquem em paz
Adendo
Vemos a burocracia e a politicagem utilizarem os mesmos artifícios que já causaram muita coisa ruim nesse país e ninguém fala nada, ninguém sai às ruas, ninguém exige a honestidade e o bom uso do dinheiro público, o nosso dinheiro.
Movimentos de esquerda só saem as ruas para defender os assuntos de esquerda. Onde está o estardalhaço e as exigências por segurança, por educação decente e imparcial?
Já disse uma vez e repito: os políticos são funcionários do povo, e o povo deve tratá-los como tal. Temos mais cuidado em checar as referências de um candidato a gerente para nossa empresa ou uma empregada doméstica para nossa casa do que para o Presidente da República, dos deputados, dos vereadores.
Não ganhamos apenas o direito ao voto, ganhamos também a obrigação. Isso é democracia? Incentivo à votar contrariado para se livrar logo daquela fila fatídica?
Senhoras e senhores, educação imparcial e de qualidade, saúde, segurança e prosperidade. Princípios básicos, cuja falta dos mesmos é a raiz para quase todo o mal, que deveriam ser a prioridade de qualquer idiota que suba ao poder, acabam cedendo lugar aos jogos políticos, ao lobby, aos fantasmas do passado.
Mas estamos mudando. Aos poucos vejo surgir no horizonte a verdadeira democracia, o povo se preparando, se conscientizando. Será?
Não aparece nem para os assinantes??
Não tem no Spotify e aqui está off, vai voltar?
Episódio 68 está OFF?
Por que não tem no spotify ?