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Foto do escritorChristian Gurtner

Deutschland – A história da Alemanha


Dois mil anos da história de um país repleto de guerras, mas também de maravilhas e virtudes. A Alemanha desde os primórdios.

Episódio da antiga temporada

Esse episódio faz parte dos fantásticos podcasts mais antigos do Escriba Cafe que, por questões de direitos autorais, não estão disponíveis para download nem pelo feed, Spotify, etc, (nem mesmo pelo player fixo no site) sendo possível ouví-los somente pelo player no respectivo post.

TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO

(As transcrições dos episódios são publicadas diretamente do roteiro, sem revisão, podendo haver ainda erros ortográficos/gramaticais e, assim, pedimos que marquem os erros e deixem uma nota para que possamos corrigí-los)


Ler a transcrição completa do episódio


No ano de 800 a.C., tribos germânicas começaram a migrar para os territórios celtas, seguindo até os rios Oder e Reno. Não tardou para que Roma se sentisse ameaçada e enviasse um exército, liderado por Públio Quintílio, para combater os germânicos. O exército romano adentrou a Floresta de Teutoburgo e, ali, foi emboscada pelo exército germâncio, liderado pelo chefe germano, Armínio. Três legiões romanas foram dizimadas e a batalha vencida pelos germânicos.

Essa derrota empurrou Roma para além do Reno, fazendo com que esse rio se tornasse a fronteira do Império Romano.

Temendo novos ataques, Roma construiu uma linha defensiva de 550 quilômetros, que ia do Reno até o Danúbio. Mas Roma já estava fadada a cair: os germânicos deixaram boa parte da Europa nitidamente separada dos romanos e sua cultura.

No século IV d.C, a queda do Império Romano era iminente. E no ano de 751, Pepino assumiu o título de rei dos francos, que era um dos povos germâncos. Os francos, com apoio da Igreja Católica, combateram e dominaram outros povos germâncos, principalmente os saxões, que eram considerados pagãos e foram convertidos à força, tendo, também suas terras anexadas ao reino franco.

Com o passar tempo, o então rei Carlos Magno, numa longa campanha, estendeu o império carolíngio, anexando os territórios de todos os povos germânicos, inclusive os saxões e os bárbaros, criando, assim, o Sacro Império Romano-Germânico.

Os anos seguintes à criação do primeiro Reich são marcado por disputas internas e religiosas. Até que, no século XI, começam as cruzadas.

Além dos Templários, surgiram outras ordens religiosas de cavalaria, como a temida Ordem dos Cavaleiros Teutônicos. Esses cruzados germânicos invadiram, dominaram e converteram à força muitos povos e territórios. Eram militarmente bem treinados, empunhavam grandes espadas e armaduras ágeis e eram de grande estatura, o que impunha medo em seus inimigos.

A expansão germânica em direção ao oriente fez com que camponeses alemães, bem como a Ordem Teutônica, colonizassem territórios habitados pelos eslavos ao leste do Oder

Enquanto isso, o então rei germânico Frederico Barbarossa, invadia e dominava a região da Itália e começava sua estratégia para manter seu poder. A partir do ano de 1184, o poder dos senhores feudais foi reduzido através da nomeação de funcionários imperiais.

Em 1226, a Ordem Teutônica conquistou e evangelizou partes da Prússia, cuja população foi dizimada pelos cavaleiros. Mas a partir de 1300, o Império começou a perder território em todas as suas fronteiras. E no ano de 1410 os cavaleiros teutônicos foram enfrentados por um enorme exército polaco-lituano. Os cavaleiros teutônicos foram derrotados, iniciando seu declínio.

E servindo de contraste, a essa altura, Pedro Álvares Cabral ainda nem tinha nascido.

No século XIV, a Peste Negra dizimou a Alemanha e a Europa.

Após esses conturbados anos de peste, a sociedade européia moderna surgiu, resultado de mudanças econômicas, religiosas e políticas. Um sistema proto-capitalista evoluiu aos poucos a partir do feudalismo.

No início do século XVI Era crescente o descontentamento na Alemanha com os abusos na Igreja Católica. E o cenário de revolta crescia gradativamente.

E então, em 1517, um monge chamado Martim Luthero, se rebelou contra as injustiças e abusos católicos e pregou no portão da igreja do castelo em Wittenberg, um manuscrito contendo 95 teses, para mostrar ao povo as injustiças da igreja católica. Era iniciada a reforma protestante.

Em 1521, Lutero foi declarado fora-da-lei. Mas a Reforma se espalhou rapidamente, e contava com o apoio de monarcas. Escondido no Castelo de Wartburg, Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, lançando as bases da moderna língua alemã e, fornecendo assim, acesso popular aos ensinamentos da bíblia, que antes eram somente em latim e lidos e interpretados pelos próprios sacerdotes católicos.

Vários reinos e regiões por interesse político ou não, aderiram ao protestantismo. E temendo sua queda, em 1545, a igreja católica inicia a Contra-reforma, para combater o protestantismo e se reafirmar como a fé suprema.

Poucos anos depois, as diferenças entre os católicos e protestantes geraram disputas e batalhas, que culminaram da Guerra dos Trinta anos, que envolveu boa parte da Europa e destruiu grandes áreas da Alemanha, eliminando quase 1/3 de sua população. A guerra terminou em 1648.

Um sistema absolutista de governo foi adotado, e, em 1701, Frederico de Brandemburgo foi coroado “Rei da Prússia”, que se tornava um estado alemão centralizado e poderoso.

Mas com o passar dos anos, iniciou-se a Revolução Francesa e várias batalhas foram travadas.

As batalhas, à essa altura, já contavam com armas de fogo e não mais só espadas. As armaduras se tornaram obsoletas.

A França declarou guerra contra a Austria, mas numa frustrante desorganização, foi invadida pelos prussianos, que logo se retiraram da França e fizeram um tratado de paz.

Mas, pouco depois, Napoleão Bonaparte recomeçou a guerra com o Sacro Império Romano-Germânico e, em 1803, ele aboliu quase todos os territórios imperiais. Novos estados foram estabelecidos e a Prússia ganhou um territótio no noroeste.

Assim, em 6 de agosto de 1806, o Sacro Império Romano-Germânico foi dissolvido.

Mas em 1815, Napoleão foi definitivamente derrotado em Waterloo por forças do Reino Unido e da Prússia. Estabeleceu-se, em seguida, uma união entre a Prússia e a maior parte dos demais estados alemães. E em 1862, o Príncipe Bismarck foi indicado como chanceler da Prússia. Quatro anos depois, após conflitos e problemas externos diversos, iniciou-se a guerra Austro-Prussiana. Os austríacos foram derrotados.

Surgiu, então, a Confederação da Alemanha do Norte, sob a liderança da Prússia. A Áustria foi excluída e permaneceu fora dos assuntos alemães. O chanceler prussiano Bismarck, após controvérsias com a França, provocou a Guerra Franco-Prussiana, e tropas prussianas e sul-alemãs invadiram a França em 1870. O Imperador Napoleão III foi feito prisioneiro e o Segundo Império francês desmoronou. A França foi obrigada a ceder algumas regiões e a confederação da alemanha do norte, se transformava em um segundo reich. Era criado o Império Alemão.

O Rei Wilhelm I da Prússia foi proclamado Kaiser, Imperador da Alemanha.

As políticas internas do chanceler Bismarck, , se baseavam na sua luta contra os supostos inimigos do estado protestante da Prússia. Na chamada Kulturkampf (“luta cultural”), ele buscou limitar a influência da Igreja Católica e do seu tentáculo político.

O Kaiser Wilhelm I insistia com Bismarck que o Império Alemão deveria se tornar uma potência mundial através da aquisição de colônias alemãs, mas, por ser cauteloso quanto à segurança do império, ele aguardou uma situação internacional propícia e, só então, estabeleceu algumas colônias na África.

Em 1888 o Kaiser Wilhelm I morreu, e seu filho, Frederico III, foi coroado, mas reinou por apenas 99 dias, até a sua morte. Subiu ao trono, então, o jovem e ambicioso Guilherme II, que se mostrou muito divergente com as políticas de Bismarck, não aceitando sua influência, o que fez com que Bismarck renunciasse ao título de Chanceler. E logo após a renúncia, a política externa alemã sofreu uma inflexão.

A partir daí, conflitos comerciais e ações imperialistas cultivaram um terreno de tensão na Europa. E quando um herdeiro do trono austríaco foi assassinado, uma série de eventos seguidos culminou na primeira Guerra Mundial. Os motivos da guerra, apesar de serem apontados como originados no assassinato, são muito mais complexos e incertos.

A guerra foi sangrenta, e dessa vez, e evolução armamentista já disponibilizava metralhadoras, aviões biplanos e navios de aço com canhões.

No decorrer dessa primeira grande guerra, alguns casos curiosos e impressionantes aconteceram. Um deles, já citado aqui no Escriba Cafe, foi a trégua de natal, onde num campo de batalha, soldados alemães, ingleses e franceses, que trocavam tiros e bombas entre si, foram surpreendidos na noite de natal, quando os alemães, em sua trincheira, colocaram árvores e velas à mostra para os inimigos. Começaram a cantar “Noite Feliz” e logo foram acompanhados pelos ingleses e franceses, cada qual em seu idioma. Os alemães levantaram placas com dizeres de feliz natal e, pouco depois, todos saíram de suas trincheiras e confraternizaram com bebidas, troca de presentes e uma missa conjunta. No dia seguinte, novamente se confraternizaram e até jogaram uma partida de futebol. A batalha estava resumida ali, pois não conseguiram mais guerrear entre si, e logo os generais tiveram que trocar seus soldados daquele front para continuar a batalha.

Nessa mesma época, um soldado alemão de nome Hans Leip, que estava prester a ir para o front Russo, escreveu uma poema intitulado Lili Marlen. O nome desse poema era uma mistura do nome de sua namorada e o nome da namorada de um outro soldado que lutava ao seu lado.

Mas a beleza desse poema foi esquecida em 28 de junho de 1919, quando, depois de perder a guerra, a Alemanha foi obrigada a assinar o tratado de Versalhes, onde cedia boa parte de seu território, limitaria seu exército a números mínimos e pagaria compensações financeiras para seus adversários.

Os humilhantes termos do tratado, somados à derrota, causaram indignação entre o povo alemão. E, em sua história, os povos germânicos sempre se reergueram das derrotas com uma força surpreendente. Assim, seguindo em frente para fechar a ferida da humilhação, em 1922 é adotado um poema escrito 80 anos antes, como o hino alemão, que levantava a moral de seu povo.

O hino possui três estrofes, sendo a primeira a mais forte, que em português significa:

Alemanha, Alemanha acima de tudo, acima de tudo no mundo, quando sempre, na defesa e proteção, se mostra unida como irmãos. Do Maas ao Memel, Do Etsch ao Pequeno Belt, Alemanha, Alemanha, acima de tudo, acima de tudo no mundo!

E parece que o hino se fez ouvir. No mesmo ano, a Alemanha deixou de pagar a indenização de guerra, o que causou conflitos externos. A situação sócio-econômica não estava boa, e os conflitos políticos cresciam cada vez mais. O povo estava insatisfeito e, depois de várias manobras legais e ilegais, subiu ao poder aquele que dizia que iria reerguer a Alemanha de uma vez por todas.

O partido nazista, liderado por Adolf Hitler, logo começou a rearmar a Alemanha, perseguiu comunistas, ciganos e judeus e começou sua expansão, a qual intitulou de Terceiro Reich. Em pouco tempo, retomou algumas regiões que a Alemanha havia perdido e, em 12 de março de 1938, tropas alemãs invadem a Áustria. Hitler é recebido com calorosos aplausos do povo autríaco em Viena. Quatro semanas depois, 99% dos austríacos votam a favor da anexação da Áustria à Alemanha.

Em seguida, Hitler volta-se para a Tchecoslováquia, a invade e também a anexa ao território Alemão. Até então, os outros países somente protestavam contra essas ações. Até que, em 1939, Hitler, junto com a União Soviética, invade a Polônia.

A segunda guerra mundial se tornou o conflito que mais causou vítimas na história. Militares civis e judeus perseguidos implacavelmente somam milhões e mais milhões de mortes nos cruéis e terríveis anos de guerra. De um lado da batalha estão Alemanha, Itália e Japão e do outro grã-bretanha, frança e, posteriormente, Estados Unidos, União soviética e outros.

As batalhas aconteciam na Europa na Ásia e na África.

E foi justamente na África que os soldados alemães ouviram pela primeira vez, na rádio da caserna, a versão musicada, recentemente criada, daquele poema que aquele soldado chamado Hans Leip escreveu na primeira guerra mundial. As tropas alemãs da Africa, conheciam então, na segunda guerra mundial, a música que seria a mais cantada pelos soldados durante toda a guerra: a música Lili Marleen

Não demorou muito para que a música se espalhasse por todos os campos de batalha e os soldados alemães a adotaram como um hino não oficial deles mesmos. Mas o mais interessante é que, em certa ocasião, os soldados britânicos ouviram a música e gostaram tanto que, também as tropas britânicas, passaram a tocar e sempre cantar a música. Um oficial inglês não gostou muito de ver seus soldados cantando em alemão e logo traduziu a música, e ela passou a ser cantada em inglês. Não demorou muito, a música começou a ser traduzida e gravada em diversos outros idiomas, sendo sempre adotada pelos soldados de todos os exércitos.

Em português o poema diz:

Em frente ao quartel Diante do portão Havia um poste com um lampião E se ele ainda estiver lá Lá desejamos nos reencontrar Queremos junto ao lampião ficar Como outrora, Lili Marlene.

Nossas duas sombras Pareciam uma só Tinhamos tanto amor Que todos logo percebiam E toda a gente ficava a contemplar Quando estávamos junto ao lampião Como outrora, Lili Marlene.

Gritou o sentinela Que soaram o toque de recolher Um atraso pode te custar três dias Companheiro, já estou indo E então dissemos adeus Como gostaria de ir contigo Contigo, Lili Marlene

O lampião conhece teus passos Teu lindo caminhar Todas as noites ele queima Mas há tempos se esqueceu de mim E, caso algo ruim me aconteça Quem vai estar junto ao lampião Contigo, Lili Marlene?

Do tranquilo céu, Das profundezas da terra Me surge como em sonho Teu rosto amado Envolto na névoa da noite Será que voltarei para nosso lampião Como outrora, Lili Marlene.

Em 1945 termina a segunda guerra com a derrota da Alemanha e do Japão. A Alemanha estava completamente em ruínas, e seus territórios foram dividos entre os Estados unidos e a União Soviética.

O lado ocidental, pertencente aos EUA, tornou-se mais atrativo, uma vez que a Alemanha Oriental vivia em regime comunista, e assim, como em todo regime comunista, os habitantes começaram a emigrar, até que, em 1961, um muro foi erguido, separando os dois lados e, dessa forma, as pessoas não poderiam mais cruzar a fronteira. Muitos tentaram fugir ilegalmente da Alemanha Oriental e foram mortos, feridos ou presos.

Os dois estados alemães mativeram uma relação fria e tensa, até que, timidamente, em prol da unidade alemã, criaram alguns laços.

E foi em 1989 que as duas Alemanhas surpreenderam o mundo quando derrubaram o muro. Milhares e mais milhares de alemães estavam presentes, comemorando e ajudando a derrubar o concreto. A Alemanha voltava a ser um só país, o lado ocidental distribuiu verbas para o lado oriental se equalizar como um todo. E novamente, completamente reerguida, a Alemanha exerce um papel de liderança na Europa.

O povo alemão é o maior responsável por todas as conquistas de seu país. Suas origens guerreiras, deixaram uma forte virtude batalhadora em seu povo, que, por mais derrubado que o país esteja, eles lutam com todo afinco para se elevar, assim como Fênix que nasce das cinzas.

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